29 de jul. de 2009

Separação

" Voltou-se e mirou-a como se fosse pela última vez, como quem repete um gesto imemorialmente irremediável. No íntimo, preferia não tê-lo feito; mas ao chegar à porta sentiu que nada poderia evitar a reincidência daquela cena tantas vezes contada na história do amor, que é história do mundo. Ela o olhava com um olhar intenso onde existia uma incompreensão e um anelo, como a pedir-lhe, ao mesmo tempo, que não fosse e que não deixasse de ir, por isso que era tudo impossível entre eles.


Viu-a assim por um lapso, em sua beleza morena, real mas já se distanciando na penumbra ambiente que era para ele como a luz da memória. Quis emprestar tom natural ao olhar que lhe dava, mas em vão, pois sentia todo o seu ser evaporar-se em direção a ela. Mais tarde lembrar-se-ia não recordar nenhuma cor naquele instante de separação, apesar da lâmpada rosa que sabia estar acesa. Lembrar-se-ia haver-se dito que a ausência de cores é completa em todos os instantes de separação.

Seus olhares fulguraram por um instante um contra o outro, depois se acariciaram ternamente e, finalmente, se disseram que não havia nada a fazer. Disse-lhe adeus com doçura, virou-se e cerrou, de golpe, a porta sobre si mesmo numa tentativa de secionar aqueles das mundos que eram ele e ela. Mas o brusco movimento de fechar prendera-lhe entre as folhas de madeira o espesso tecido da vida, e ele ficou retido, sem se poder mover do lugar, sentindo o pranto formar-se multo longe em seu íntimo e subir em busca de espaço, como um rio que nasce.

Fechou os olhos, tentando adiantar-se à agonia do momento, mas o fato de sabê-la ali ao lado, e dele separada por imperativos categóricos de suas vidas, não lhe dava forças para desprender-se dela.

Sabia que era aquela a sua amada, por quem esperara desde sempre e que por muitos anos buscara em cada mulher, na mais terrível e dolorosa busca. Sabia, também, que o primeiro passo que desse colocaria em movimento sua máquina de viver e ele teria, mesmo como um autômato, de sair, andar, fazer coisas, distanciar-se dela cada vez mais, cada vez mais. E no entanto ali estava, a poucos passos, sua forma feminina que não era nenhuma outra forma feminina, mas a dela, a mulher amada, aquela que ele abençoara com os seus beijos e agasalhara nos instantes do amor de seus corpos. Tentou imaginá-la em sua dolorosa mudez, já envolta em seu espaço próprio, perdida em suas cogitações próprias - um ser desligado dele pelo limite existente entre todas as coisas criadas.


De súbito, sentindo que ia explodir em lágrimas, correu para a rua e pôs-se a andar sem saber para onde… "

Fonte: Vinícius de Moraes

17 de jul. de 2009

"A vida não é feita de escolhas.."

"A vida é feita de aceitação. Segundo o professor americano Barry Schwartz, autor do "Paradoxo da Escolha", quanto mais escolhas temos mais confusos e frustrados ficamos. Essa confusão vem da idéia de que quanto mais opções temos na nossa vida, teoricamente, mais chances temos de que uma delas seja a perfeita. E nessa busca pela perfeição escorregamos feio e nos afastamos cada vez mais da felicidade plena e pura.

A felicidade não nos dá escolhas. A felicidade verdadeira vem da aceitação e do entendimento de uma condição. Assim, com escolhas restritas, acabamos nos apegando ao que temos e fazemos deste o melhor que se pode ser.

Não acredito que o meu passarinho estivesse frustrado em sua espaçosa gaiola, afinal, ele nunca havia voado por aí como seus irmãozinhos mais afortunados. Essa ignorância em relação à uma condição diferente nos faz ser mais acertivos e focados na busca pelo caminho que nos satisfaça.

Quem nunca travou na frente de um cardápio com centenas de opções de prato? E a mais comum reação nessas horas é buscar o caminho usual para sair dessa confusão: pedir o filet com fritas ou aquele prato que estamos acostumados. O excesso de opções na vida não só deixa nosso poder de decisão difuso mas acaba nos bloqueando ao novo.

A vida é feita de escolhas e quanto menos tivermos pra escolher mais estaremos aptos para condicionar nossa felicidade a uma relaidade que existe, e não a uma vida que é fruto de obcessões utópicas de uma perfeição de plástico. Reduza suas opcões no dia-a-dia. Não precisamos de tanto, apenas do suficiente para nos fazer felizes. E pode ter certeza que você precisa de muito menos do que imagina.
"

2 de jul. de 2009

Many of the great achievements of the world were accomplished by tired and discouraged men who kept on working